Abarcando a ressignificação cultural, álbum visual lançado pela Disney+ está gerando debates e análises. Confira aqui os detalhes por trás da obra.
Foto: Beyoncé em Black Is King / Divulgação
Nova obra de Beyoncé chega com muita qualidade visual e material denso, numa ode cultural, histórica e artística. Como todos os trabalhos visuais da Queen B, 'Black Is King' nos apresenta uma história de análise importante, que precisa ser compreendida em sua forma global. Por isso, elencamos aqui algumas informações importantes sobre o filme.
Foto: Beyoncé e Kelly Rowland em Black Is King / Divulgação
Talvez seja possível definir 'Black Is King' usando as palavras 'profundidade, história, arte, moda e ressignificação'. Beyoncé comentou via Instagram que o intuito desse filme era mostrar pras pessoas a história que não foi contada sobre a beleza da ancestralidade preta. Não vemos na obra os estereótipos visuais de uma África escravizada, com uma narrativa marcada apenas por dor, como se tudo tivesse começado a partir do ponto de vista branco. Como Beyoncé diz no filme: "éramos bonitos antes mesmo deles saberem o significado da beleza". A obra REIMAGINA a história por trás do clássico 'Rei Leão' e aplica os ensinamentos numa perspectiva humana. Num trabalho que levou mais de 2 anos para ser concluído, Beyoncé formulou o álbum 'The Gift' alinhando-o ao clássico da Disney e aos ensinamentos de 'Black Is King'.
Foto: Beyoncé em Black Is King / Divulgação
Por isso vemos nesse filme, a história de um jovem rei (inspirado em Simba), que é tirado de sua vida e jogado aos horrores do colonialismo e do mundo cruel. Durante todo a narrativa, Beyoncé aparece como uma espécie de guia espiritual, que vai ajudar, juntamente com as forças divinas, esse jovem rei perdido a se reencontrar e a seguir seu caminho. Assim, o filme começa com uma espécie de 'criação do ser preto' nos braços da Queen B, com todo um ritual cuidadosamente pensado. Viemos da poeira cósmica, somos descendentes de reis, somos bonitos, existe beleza em nossa história.
Foto: Beyoncé em Black Is King / Divulgação
No processo de criação desse novo rei, que irá se perpetuar por gerações e gerações, ele cai na terra como uma estrela, uma dádiva, com a constante proteção de seus ancestrais. Ele nunca estará sozinho. Um ponto bastante recorrente dentro das obras visuais da Beyoncé é o jogo entre o que é presente, passado e futuro. Num momento acompanhamos o nascimento desse rei, no instante seguinte somos jogados em seu futuro, onde ele se vê obrigado a buscar seu caminho na terra, mas segundos depois somos imersos em seus pensamentos do passado, como uma espécie de 'epifania'.
Foto: Beyoncé em Black Is King / Divulgação
Lá está ela, a guia ancestral acompanhando a aguardada chegada desse rei na terra. Fazendo um paralelo com Simba, seria todo aquele ritual onde os animais se juntam e aguardam seu nascimento. A criança ou futuro rei precisa encontrar o seu caminho. A Queen B vai levar a luz pra esse rei, e assim ele se encontrará, como percebemos em 'Find Your Way Back'. Aliás, esse pequeno rei tem dúvidas sobre seu desejo em governar, mesmo acompanhando os passos de seu pai. Avançando na história, após o ataque de Scar e consecutiva morte do rei, o jovem princípe é jogado no mundo à própria sorte. Nesse momento é importante citar o ato de 'Nile' no filme, onde Beyoncé aparece num funeral usando cores absolutamente brancas, invertendo o dito popular, que sugere o uso do preto nessas ocasiões. É ressignificação da cor. Como em todo o filme, as cenas que acompanham esse momento de tristeza são muito bonitas e representativas.
Foto: Black Is King / Divulgação
Enfim, o tempo passa e esse jovem rei perdido é levado para um local de muita riqueza, fartura e poder. A chegada do jovem rei é acompanhada da também chegada de Jay-Z. Lembram do jogo entre presente, passado e futuro? Então, pressupõe-se que o Jay seja uma OUTRA versão desse jovem rei. E aí é luxo e poder em 'Mood 4 Eva'. Observação nesse ato para a inclusão da canção 'Mbube' de Solomon Linda, o autor sul-africano da faixa “The Lion Sleeps Tonight” morreu em 1962 sem ganhar qualquer tipo de reconhecimento por sua composição de sucesso, originalmente criada por ele como 'Mbube', enquanto a Disney e demais artistas brancos ganharam MILHÕES por ela. Conheça a faixa:
Uma possível referência em 'Mood 4 Eva', com os personagens pretos mostrando os dentes cravejados de diamantes, talvez remonte a ideia de que no período da escravidão, os brancos escolhiam e compravam os escravos pelo brilho dos seus dentes, como peças, ao invés de seres humanos.
Foto: Black Is King / Divulgação
Enfim, o personagem segue sua jornada, vivendo muito bem, mas longe de seu destino. Um ponto interessante é a colocação da bandeira dos Estados Unidos em uma das cenas seguintes, com as cores pan africanas. É a ressignificação desse símbolo, para mostrar que a história do país está intimamente ligada à negritude, à ancestralidade e portanto, á África.
Foto: Black Is King / Divulgação
Outro aspecto importante que é a presença da rainha Nala e sua representação no filme como a salvadora. A pessoa que recria as coisas e dá origem à vida. A mulher e sua liderança traz a beleza, a força e o sentido pras coisas. Existe ainda todo o simbolismo com a água, desde o início do filme. O rei inclusive aparece comentando sobre ressignificar a vida, a esperança, a pureza e a própria habilidade de renascer. Existe em 'Water' a metáfora com a água, com o rio, o mar. Trazendo a ideia de que tudo passa, tudo se renova e se reconstrói. Nesse reconstruir, voltamos ao ressignificar, que é o objetivo do filme.
Foto: Beyoncé em Black Is King / Divulgação
Então somos imersos no ato de 'Brown Skin Girl', mostrando toda a beleza da cor preta, em suas mais diversas tonalidades. Sempre num ar de poder, riqueza e amor próprio. Em 'Keys To The Kingdom' temos o casamento real, com muita beleza, representatividade, elementos de referência cultural em CADA cena. "O céu e a lua se curva pra você". Nesse momento somos imersos na mensagem de IGUALDADE, que ecoa no casamento. Em seguida os diversos reis aparecem conversando sobre a NECESSIDADE de recriar a imagem da figura preta. "Precisamos mudar como acham que devemos ser... Precisamos cuidar das próximas gerações." Chamo atenção também pro momento de força em 'My Power', que é mais uma celebração da unicidade preta e a memória afetiva em 'Otherside'.
Foto: Beyoncé em Black Is King / Divulgação
Cabe destacar aqui que, cada uma das músicas de 'Black Is King' merece uma análise profunda, pois são ricas em referências e mensagens importantes. De forma global, o filme se encerra como uma verdadeira obra de arte que encanta através de seus visuais de tirar o fôlego e emociona com as mais sinceras mensagens. Afinal, ser preto é ter poder.
Texto: Arthur Anthunes
Revisão: Lucas Cranjo
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